O DEUS CADELA – João Victor Barbosa

NUNCA TE DISSERAM QUE A LITERATURA É O ATESTADO PARA A ETERNIDADE?

Até que ponto uma história de amor mal resolvida pode levar alguém à loucura? Até que ponto a convulsão interna pelo término pode conduzir alguém a uma caçada que já parece perdida de antemão? Até que ponto a incompreensão com o término pega alguém pela mão e o joga em um abismo no qual a própria realidade pode ser questionada? O ponto, caros leitores, é a história de O deus cadela, livro de João Victor Barbosa.      

            Fruto de uma edição independente, o romance foi publicado em 2018 e tem como protagonista um jovem homem chamado Óskar, que até o momento do início da narrativa tem uma vida tranquila. É professor em uma escola, cuida do corpo e da mente, tem uma casa e um cachorro. Mas dois acontecimentos vão fazer com que sua vida mude drasticamente.

            O primeiro deles é a morte de seu cachorro, Ótis. Já não bastasse a perda do amigo, a maneira pela qual ele descobre o deixa atordoado: o cachorro é deixado ensanguentando em seu armário na escola. Ainda remoendo a perda, Óskar conhece, após uma noite de bebedeira, uma misteriosa jovem chamada Simone, na beira da praia.

            Desde o primeiro contato, Óskar sabe que aquela moça mexeu com ele. Em breve, acabam se envolvendo em uma paixão avassaladora. Segundo o olhar do protagonista, que é o narrador, esse sentimento não habita só nele, é compartilhado com a moça, e o casal mergulha em uma relação cheia de desejos e belos momentos.

            Mas Simone é misteriosa desde o início. Por alguma razão, não quer que Óskar visite a pensão na qual ela mora com a avó. Para aumentar o mistério, ela termina o relacionamento por telefone e pedindo para que Óskar não a procure. Mas é claro que ele não vai respeitar esse pedido. Em breve, ele descobre que Simone poderia ter morrido muito antes de eles se conhecerem.

            Essa possibilidade tira o personagem de seu juízo, jogando-o em um turbilhão em que ele começa a misturar realidade, sonho, sobrenatural e inconsciente. Surgem outros personagens como o ex-médico Lineu e Natanael, primo de Simone, que ajudam a dar mais uma volta ao parafuso deslocado de Óskar.

            Mas nem só de caleidoscópio vive essa história. Ela é cheia de reflexões a respeito do sentido da vida, da insatisfação dos personagens e da fatalidade de certas narrativas pessoais que nos aprisionam. Além disso, contém uma boa dose de erotismo na relação de Óskar com Simone e com mais outro personagem que é preferível manter em sigilo aqui na resenha.

            Em pelo menos três quartos do livro, a linguagem narrativa é bem límpida, apesar do flerte com essas outras realidades. Na última parte, entretanto, muda o tom, contaminando inclusive as cenas, quase sempre espectrais, fazendo com que o leitor seja jogado num mundo onde quase nada é palpável e crível. Dica: existe uma chave de leitura bem no início do livro, mas você só vai sacar se souber kanji. Eu só soube depois.

            Em alguns momentos dá até para dizer que a narrativa beira o terror, com visões do personagem, os sonhos que tem e a presença de um animal extremamente temido. E o final, em aberto, deixa uma dúvida na cabeça do leitor: tudo isso é mesmo real, quais as explicações para aquelas dúvidas que tinha? Aconselho que sente e aceite esse mundo de O deus cadela como ele é.

Compre o livro AQUI

  • TÍTULO: O deus cadela
  • AUTOR: João Victor Barbosa
  • EDITORA: Independente
  • ANO: 201
  • GÊNERO: Romance
  • PÁGINAS: 224

TRECHOS:

“Ela, nua, abriu as pernas e as enlaçou sobre os meus ombros como se quisesse capturar minha cabeça e engoli-la para dentro do seu sexo vertiginoso. Depois permitiu que o órgão recebesse minha língua que vinha da cavernosa cara à sua frente, deslizando para dentro dos lábios o músculo enrijecido. Minhas mãos deslizavam pelo torso dela até alcançarem seu quadril e apertarem as lombadas das nádegas que, sustentadas no colchão da cama, contraíam-se ligeiramente a partir das lambidas que o sexo recebia”.

“Levantei-me e fui, pé sobre o chão gelado, fechar a janela e puxar a cortina, quando, nesse átimo, de um sobressalto, vi a figura de uma mulher recostando uma bicicleta velha sobre a parede em frente à janela. As roupas penduradas no varal me impediam de ver com plena certeza a cabeça da mulher, mas a bicicleta que ela abandonava na parede era a mesma que Simone usava para ir à praia comigo”.

1 comentário

Deixe um comentário